Se sua resposta for NÃO, cuidado, sua saúde está em perigo. Noites mal dormidas causam tantos males em nossa saúde que é um assunto a ser levado muito a sério! Inicialmente, alguns sintomas negativos começam a ser notados, tais como cansaço e alteração de humor, mas, a longo prazo, podem surgir problemas cardiovasculares, cognitivos e alta no risco de desenvolver doenças crônicas. E olha que basta apenas uma única noite sem dormir ou dormida com poucas horas de sono para sentir-se indisposto, irritadiço, ou lentificado no dia seguinte, e, normalmente, com atenção e memória comprometidas. Também não adianta ficar contando quantas horas de sono tem dormido, pois além da quantidade a qualidade destas é igualmente importante, até por que, não há um número exato de horas dormidas que possa ser definido como ideal uma vez que a idade, o estado de saúde, o estilo de vida, o consumo ou não de medicamentos, tudo isso e outras tantas variáveis devem ser consideradas, afinal, cada um é único.
A literatura médica divide problemas de sono entre casos de déficit agudo, quando a duração é pontual, curta, durando apenas um ou dois dias, e déficit crônico, quando ultrapassa a três meses, por exemplo. Se o primeiro caso pode levar a uma comilança compulsiva ou ao exagero em consumo de bebidas de álcool nas noites de insônia, déficits crônicos são os que mais afetam a saúde mental das pessoas, pois quadros depressivos, de ansiedade ou de síndrome de pânico podem surgir em decorrência.
O agravante é que nestas horas muita gente apela para a automedicação buscando nos fármacos a solução, a qual até pode vir, ainda que de forma parcial. Segundo a ANVISA, mais de 20 milhões de caixas de benzodiazepínicos são comercializadas por ano no Brasil, sem falar na melatonina, um hormônio que, se usado indevidamente, também pode trazer prejuízos à saúde. Todavia, a pergunta a ser feita é sobre o que lhe tira o sono. “Emboletar-se” para dormir não vai devolver um emprego, não vai melhorar o relacionamento de um casal, não vai resolver questões financeiras, é preciso encarar isso de frente, e é aí que a psicoterapia presta-se ao auxílio. Questionar-se sobre o momento atual de sua existência, avaliar-se sobre que cuidados emprega para com sua saúde, para o convívio com familiares e amigos, sobre o quanto de seu tempo dedica ao trabalho, como trata de questões espirituais, enfim, há uma série de ponderações a serem feitas sobre o estilo de vida e que poderão auxiliar na reflexão.
Você já ouviu falar sobre o ICASM? Ele é um índice científico utilizado em pesquisas e que reflete o estado geral da saúde mental da população brasileira acima de 16 anos. Pautado em questionário validado internacionalmente, o ICASM permite a construção de uma base de dados com representatividade estatística de alta qualidade e é atualizado a cada semestre. Quanto maior o índice obtido, melhor a qualidade de saúde mental. No que tange ao sono, no ano passado, 61% dos pesquisados relataram ter sentido forte sonolência durante o dia, sendo que estes respondentes tiveram ICASM de 590, enquanto que dos 39% que afirmaram não ter sentido sonolência nenhuma vez, tiveram o ICASM de 825 pontos. Muito suscintamente, aí está um dado científico concluindo que a sonolência (em decorrência de baixa qualidade de sono) acomete mais da metade da população brasileira e afeta negativamente a saúde mental das pessoas.
Há muitas orientações sobre como proceder para a chamada higiene do sono e que podem ser feitas poucas horas antes de dormir, tais como evitar exposições a telas de celulares e de tv, buscar manter uma regularidade em quantidade de horas dormidas, não exagerar na alimentação noturna, evitar cigarros ou álcool, enfim, uma série de cuidados a serem observados. Chega de colocar a culpa de dores no corpo e de insônias em travesseiros e colchões, eles fazem parte de nossa forma de dormir, mas, na maioria das vezes, não são os únicos responsáveis por noites mal dormidas. Há um segmento recente no mercado de redes hoteleiras chamado “turismo do sono”, cuja tendência tem crescido entre as pessoas que buscam se desconectar emocionalmente das notícias e dos acontecimentos nacionais e globais para fazer uma pausa necessária, dando mais importância ao sono durante as viagens. São hotéis, hostels, pousadas, retiros voltados unicamente ao repouso e à recuperação de energias. Cuide de sua saúde, a começar por dar atenção ao ato de dormir, porém, enquanto acordado, olhe-se, cuide-se, pratique hábitos saudáveis na busca de poder dormir melhor.
César Augusto – psicólogo
texto publicado em fevereiro de 2025