Temos quase três meses decorridos das primeiras atitudes das autoridades para que se iniciasse o isolamento social como medida necessária a minimizar a transmissão do covid-19. O que no princípio fora recebido por surpresa ou mesmo como euforia para alguns – afinal não precisar ir trabalhar, não ter aulas, ver aquela reunião indesejada cancelada causara também muitas alegrias – com o passar dos dias foi tomando ares de preocupação. Assim, ver a escalada de números aumentando como casos confirmados e mortes acontecendo vieram somar-se às preocupações sobre o retorno ao trabalho, aos salários cortados, às demissões….

          A cada dia percebemos um novo segmento afetado pela pandemia: teve a crise entre os tradicionalistas com CTGs fechados, músicos sem poder tocar bailes, garçons (trabalho extra de muita gente) sem locais para trabalhar, taxistas sem passageiros na noite e por aí afora. Também, a crise dos restaurantes e bares impossibilitados de atender, a dos hotéis, motéis, lojas de chocolate, massoterapeutas… então, como previu o Maluco Beleza, a Terra parou! Mas teve um setor que sofreu um baque muito forte, o do coração. E não me refiro aos cardiologistas, mas aos apaixonados.

          Estamos em junho. As intervenções isoladoras começaram logo no início do ano letivo, passaram pela Páscoa, o feriado de Tiradentes ficou quase despercebido, deixaram muitas famílias distantes no Dia das Mães, mas, e como será para o Dia dos Namorados? Como estará aquele que recém iniciara um namoro? Ou mesmo para os que estavam por terminar o relacionamento? O isolamento curou feridas? Aproximou? Afastou?

         O fato é que estamos em uma situação anômala onde precisamos encontrar soluções para uma série de acontecimentos inéditos. Qual casal que nunca pensou ou mesmo “deu um tempo” para o namoro? E agora, com o tempo que o covid-19 nos deu, o que fizemos dele? Deveríamos aproveitar é para nos vingarmos, no bom sentido. Explico: na mitologia, Cronos, o deus do tempo, devorava os próprios filhos (engolia-os) a cada nascimento… se nem aos filhos poupava, o que esperarmos do tempo para conosco? Vamos é “matar tempo”, deixar as coisas acontecer! Então, às vésperas de uma data que apela para o amor, para a cumplicidade de uma relação afetiva, que possamos aproveitá-la da maneira como se nos apresenta, que possamos crescer ante a dificuldade, que possamos olhar a esta realidade indesejável com a segurança de que, logo ali adiante, estaremos brindando o valor de ser persistente.

          Amar é tudo isso e muito mais, e o amor precisa destes momentos para se fortalecer. Gosto do ditado o qual diz que mar calmo nunca fez bons marinheiros, afinal, é fácil estar junto nos momentos de saúde, de festas, nos divertimentos, mas quando o mar se agita é que são elas! A pandemia vai passar, como nos sentimos ante ela também, porém, o que sentimos pela pessoa amada independe de data, sobreviverá, pois o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Tá lá, escrito por Paulo.

               Amemos.

César Augusto – psicólogo

*publicado em junho 2020