Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo XIX, há um item que trata da condição da fé inabalável. Em tempos de pandemia mundial, conheci, nesta semana, um rapaz que dizia não estar preocupado com o Novo Coronavirus por ser uma pessoa de muita fé. Em seu discurso, as medidas de isolamento social, utilização de máscara em locais públicos, procedimentos de assepsia (lavar as mãos, utilizar álcool gel etc…) seriam dispensáveis ante sua crença. Lembrei-me de uma leitura de o Evangelho e a transcrevo na íntegra: “A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender. A fé cega já não é deste século, tanto assim que precisamente o dogma da fé cega é que produz hoje o maior número dos incrédulos, porque ela pretende impor-se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio. É principalmente contra essa fé que se levanta o incrédulo, e dela é que se pode, com verdade, dizer que não se prescreve. Não admitindo provas, ela deixa no espírito alguma coisa de vago, que dá nascimento à dúvida. A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade. A esse resultado conduz o Espiritismo, pelo que triunfa da incredulidade, sempre que não encontra oposição sistemática e interessada.”

          Era um rapaz de muita fé, sem dúvidas, mas a sua cegueira era tamanha que, por maior que fosse o que chamava de fé, não passava de um escravo de uma religião, sem liberdade para utilizar de sua inteligência e da possibilidade de decidir o que lhe seria melhor. Devemos ter fé, mas aquela que possa ser definida como a fé raciocinada.

César Augusto – psicólogo