A Dra Ana Claudia Quintana Arantes chamou a atenção a quem assistiu à sua palestra pelo canal TED por, no encerramento, proferir a frase: “A morte é um dia que vale a pena viver”; o vídeo (à época) teve mais de 3 milhões de acessos pelo youtube®. O acrônimo TED vem de Technology, Entertainment and Design – ou seja, ele personifica o que há de mais relevante nessas áreas; na prática, trata-se de um ciclo de palestras e encontros em que nomes de referência em diversos campos do conhecimento são convidados a expor suas ideias e estão disponíveis em sites da WEB. Diante tamanha repercussão, a Dra Ana, que é médica, escreveu um livro (cujo título é sua frase citada acima) sobre Cuidados Paliativos, tema em que ela é referência no Brasil.

          Mais do que um livro que trate sobre a morte, é uma leitura que permite-nos um novo olhar para a vida pela naturalidade com que aborda tais questões. A certa altura a autora cita uma enfermeira australiana chamada Bronnie Ware, a qual constata em sua vasta experiência com pacientes em fase final de vida, que é comum ouvir o relato desses sobre alguns arrependimentos que levarão consigo ao morrer. Cito apenas um: o arrependimento dos que alegam ter trabalhado muito, se dedicado ao trabalho muito além do que deveriam. Trabalhar é necessário, nos dá uma identidade social, é o que nos permite realizações, o alcance de objetivos, enfim, é aquilo que nos dá o sustento de cada dia. Mas como tudo, havemos de ter o cuidado de encontrarmos a justa medida, o equilíbrio, pois trabalho demais também adoece, física e emocionalmente, tanto o trabalhador como a sua família.

         Sobre o tema, uma pérola do filósofo e escritor Gibran Kahlil Gibran é esta: “E se não sabeis trabalhar com amor mas com desagrado, é melhor deixardes o trabalho e sentar-vos à porta do templo a pedir esmola àqueles que trabalham com alegria”. É sobre esta alegria ao trabalhar que quero me referir em alusão à recente comemoração ao Dia do Psicólogo. Pessoalmente, como psicólogo, sinto-me muito feliz com o que faço. E é possível tal felicidade, mesmo naquelas profissões que tratam do sofrimento alheio (que por vezes é também o do profissional) por um simples motivo: ao trabalharmos com alegria podemos compartilhá-la com nossos clientes. Comungo da fala da Dra Ana à certa altura do livro quando diz do envolvimento que seu trabalho propicia: “… quando o profissional de saúde realiza esse trabalho com real presença e se abre à possibilidade de troca de aprendizagem, de transformação, sente-se renovado no fim do dia. (…)  cuidar, trabalhar, fazer algo pelo outro e permanecer disponível para ser transformada, nunca me cansa”.

         É com esta mensagem, a de que o trabalho não precisa tornar-se um arrependimento na hora derradeira, que cumprimento neste 27 de agosto meus colegas psicólogos, e, também, àquelas pessoas que confiam em nossos trabalhos. São nos momentos de trocas que uma sessão de psicoterapia é capaz de propiciar que surgem as oportunidades de transformação e de crescimento pessoal, onde o sofrimento dá lugar à esperança, onde a alegria de viver pode ser retomada.

Parabéns colegas psicólogos!

César Augusto – psicólogo

artigo publicado em setembro de 2023