É muito frequente durante sessões de psicoterapia, em crises de revoltas e choros, expressões do tipo “Quero esquecer aquela pessoa!”, como se esquecendo do acontecido pudesse fazer desaparecer o sofrimento e as suas consequências. A psicoterapia deve estar focada para que a pessoa dê novo significado aos fatos, transformando sentimentos e jamais esquecendo de sua história. Ter a capacidade de lembrar-se de um ente querido que falecera ou de uma tragédia financeira ou amorosa sem sofrimentos, é o resultado do que poderíamos chamar de elaboração da dor e de uma psicoterapia exitosa.

          Vencedor do Oscar de melhor ator (2021), Anthony Hopkins, no filme “Meu Pai”, interpreta um idoso que tem nos cuidados recebidos de sua filha o único laço de afeto que lhe restou, o qual, mescla-se com lapsos de memórias em um jogo de confusões e de esquecimentos decorrentes do Mal de Alzheimer. O tema não é novidade em Hollywood, há muitos filmes que retratam casos de perdas de memória (e consequentemente de identidade) seja por doenças ou por acidentes, mas a forma como este se nos apresenta é única!

          A doença de Alzheimer é o tipo mais frequente de demência, e estas são doenças cerebrais que causam a diminuição progressiva da capacidade cognitiva, alterações de comportamento e perda da funcionalidade, e normalmente, acometem a população idosa. Segundo o IBGE, no Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas tem demências, sendo que de 40% a 60% delas são diagnosticadas como Alzheimer.

          Os esquecimentos e perda de memória, são os sintomas que mais levam os familiares a desconfiar do início da manifestação de sintomas de Alzheimer, todavia, é preciso observar outros aspectos também: “… pode haver mudanças suaves de comportamento, ansiedade e depressão, delírios e alucinações, evoluindo lentamente para perda de nexo, incontinências fecal e urinária e imobilidade física, que pode levar a pessoa a ficar acamada.”, detalha o Dr. Paulo Canineu, médico geriatra pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

          Em casos de Alzheimer, a psicoterapia é indicada apenas para os familiares ou cuidadores, uma vez que não há expectativa de reversão do quadro, pelo contrário, a cada ano que passa os sintomas tendem a agravar-se. Todavia, um bom diagnóstico é fundamental para que não seja confundida com outras doenças degenerativas, as quais exigiriam outras formas de tratamento.

          A preocupação com a saúde de familiares e de cuidadores justifica-se, uma vez que o acompanhamento de um idoso acometido exige muita atenção, presença constante e alto nível de equilíbrio emocional para não ser abalado por acusações, por ofensas, maus tratos, os quais, em muitos dos casos, logo em seguida nem serão lembrados pelo ofensor, que agirá como se nada tivesse acontecido.

          Tratar alguém acometido de Alzheimer é como cursar uma escola de amor.

César Augusto – psicólogo

publicado em maio de 2021