Liev Tolstói (1828/1910) é um aclamado escritor russo e com obras consagradas na literatura mundial como Guerra e Paz, Ana Karenina e a Morte de Ivan Ilicht, além de outras e de mais algumas dezenas de contos. É sobre o seu conto “Três perguntas” – 1908 –  que quero abordar para que você faça a sua reflexão. Na obra, um nobre imperador divulga em seu reino que pagará um prêmio muito alto a quem responder, com sabedoria, perguntas que lhe inquietam: “Qual a melhor forma de se fazer cada uma das coisas? Quais pessoas são as mais importantes de se trabalhar junto? Qual a coisa mais importante e ser feita em todos os momentos?”. Em busca da recompensa, muitos súditos apresentaram-se avidamente teorizando sobre suas opiniões à cerca das respostas, todavia, nenhuma satisfazia ao imperador, o que o levou a aventurar-se numa jornada ao alto de uma montanha em busca de um eremita que poderia lhe esclarecer. E a narrativa segue com a beleza literária de Tolstói.

         Passados 116 anos da publicação do conto, outros escritores fizeram variações e interpretações do tema que continua muito atual, e, para muitos, ainda sem respostas. Lendo a obra “O milagre da atenção plena” do monge vietnamita Thich Nhat Hanh, encontrei um fechamento muito interessante ao conto. Ele escreve: “Lembre-se que só existe um único momento importante, que é o agora. O momento presente é o único momento sobre o qual temos o domínio. A pessoa mais importante é sempre aquela com quem você está, aquela que está diante de você (…) A busca mais importante é fazer feliz a pessoa que está do seu lado, pois só isso é a busca da vida.”

          Creio que se o monge estivesse em frente ao Imperador e lhe apresentasse estas respostas o teria satisfeito. Quantas coisas deixamos para depois, procrastinando, por preguiça ou por falta de organização para tomarmos uma atitude? Não podemos esquecer de que nosso futuro será reflexo daquilo que fizermos hoje, e, que nosso passado, nada mais é do que resultado do que fora feito em algum momento chamado (na ocasião) presente. E o que dizer daquelas situações em que estamos apenas de “corpo presente” em uma reunião, palestra, diálogo, sem valorizamos e darmos a atenção a quem está à nossa frente? Por fim, posso ser feliz dedicando-me ao mundo sem, no entanto, saber sobre como está meu filho na escola, quem são os amigos com quem está saindo ou conversando na internet? Quando parei para valorizar minha companheira (o) – ou meus familiares –  por estar muito mais voltado ao trabalho ou a estranhos?

         Bem, ante a atualidade das três perguntas, deixo ao amigo leitor o exercício de retomar a leitura e, após uma reflexão, analisar se, de fato, receberia a recompensa do imperador por tê-las respondido à altura. Caso afirmativo, parabéns, agora, que tal aproveitar o novo ano e começar por colocá-las em prática?  Feliz 2024!

César Augusto -psicólogo

artigo publicado em janeiro de 2024