“No meu entender, viver bem não é só chegar a uma idade mais avançada com qualidade material de vida. É também adquirir a capacidade de olhar a trajetória.” (Mário Sérgio Cortella)

          A longevidade é um fenômeno da modernidade que está ocorrendo no mundo todo, e, é claro, a passos largos em países desenvolvidos. Nestes, uma educação de melhor qualidade, saneamento básico e alimentação, práticas sociais ou de assistência à saúde e à segurança não só aos idosos, mas à população em geral, são alguns dos fatores responsáveis. Os filósofos Mário Sergio Cortella e Terezinha Azerêdo Rios em seu livro “Vivemos mais! Vivemos bem?” abordam o envelhecimento humano sob vários aspectos, mas, quero destacar (epígrafe acima) sobre qual a melhor forma de olhar para a nossa trajetória de vida.

          Vivemos de escolhas. Ao sairmos de casa pela manhã para nossos compromissos, decidimos qual a roupa e o calçado que utilizaremos com base em vários fatores: o clima do dia, o local para onde nos dirigiremos, a necessidade de um agasalho para o caso de voltarmos mais tarde, nosso meio de transporte, muitas coisas. Por analogia, ao perguntarmo-nos sobre como nos preparamos para a vida, que escolhas fazemos? Posso querer ter saúde no envelhecimento se fumo desde a adolescência? Ter uma boa aposentadoria se sou negligente nos estudos e em assumir compromissos? Ter amparo e acolhimento se não dou atenção à família e aos amigos? Bem, se temos a clareza de que nem sempre nossas escolhas acabam sendo as melhores, precisamos ter a sabedoria para analisar nossa trajetória de vida e a humildade para reconhecer erros, pois estes são os primeiros grandes passos para a correção de rumos. É uma tentativa de pôr em prática o que James Sherman nos diz em seu livro Rejection (1982): “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”

          Esta é a proposta para vivermos bem; termos a capacidade de perceber nossa trajetória enquanto a realizamos, e não esperar o desfecho dos acontecimentos para, só então, nos darmos conta de erros. É seguir o conselho milenar de estarmos em vigilância no aqui e agora do momento, é estarmos presentes, como também nos ensina a sabedoria oriental. Desta forma, precisamos encontrar respostas para questões atinentes à atenção que damos à nossa saúde, à família e aos amigos, sem os quais, nem a maior conquista no âmbito profissional/material terá significado. O autoconhecimento, por intermédio de reflexões que uma psicoterapia pode propiciar, é a primeira grande atitude para olharmos nossa trajetória existencial, e, para as correções de rumos que se fizerem necessárias.

César Augusto – psicólogo

artigo publicado em outubro de 2023