Dia destes li um texto da escritora Bruna Lombardi intitulado “A difícil arte de escutar”, o qual permite alguma reflexão e termina afirmando que escutar é uma forma de amor e uma arte difícil de executar mas que ajuda a trazer paz para qualquer discussão. Concordo com a definição de que se trata de uma atitude difícil de ser realizada, porém, uma vez atingida, de fato, nos brinda com uma paz compensadora. Na mesma linha, há um livro editado recentemente (2019) intitulado “O palhaço e o psicanalista” (com o subtítulo: Como escutar os outros pode transformar vidas).  Nele, a ênfase é para o fato de que saber escutar propicia relacionamentos afetivos com qualidade e duradouros, amizades às claras, rendimento melhor no trabalho e na escola, enfim, o enaltecimento sobre o quanto é importante saber escutar.

          E o que fazer para aprender a escutarmos melhor? A arte de não interromper uma conversa exige atenção e respeito. Quando estamos sem perceber que transbordamos argumentos sendo incapazes de deixar nosso interlocutor concluir sua fala, corremos o risco de querermos impor nossa opinião autoritariamente. Viralizou nos meios de comunicação a intervenção do rei espanhol no ano de 2007 ante a verborragia do presidente venezuelano em uma conferência: “Por que não te calas, Chaves?”

          Mas, e quando não conseguimos fazer esta escuta a nós mesmos? Quantos aborrecimentos gerados unicamente por assumirmos o discurso de quem não tem tempo para nada? Exercitar incorretamente o ato da escuta gera mal entendidos, situações constrangedoras evitáveis, e, por isso, não há qualquer forma de amor quando o diálogo parte para um contexto de agressividade e competitividade que nos geram tristezas e aborrecimentos.

          Saber escutar a si e aos outros requer estar harmonizado com a vida, pressupõe um bom estado de saúde, uma vez que a incapacidade de escutar pode estar ligada a transtornos de ansiedade, de falta de atenção/concentração ou a situações estressoras, por exemplo.

          Acalme-se. Diz a sabedoria popular que se temos dois ouvidos e apenas uma boca é para que escutemos mais. A psicoterapia é o espaço dual da fala e da escuta, e é na moderação entre o falar e o ouvir ponderadamente que poderemos encontrar nosso ponto de equilíbrio, nossa harmonização interior, nosso bem estar.

          Escutar não é uma condição passiva, é prática, é exercício, é querer. Escute mais e a vida se tornará melhor.

 

César Augusto – psicólogo

*publicado em março de 2020