Basta um pouquinho de atenção e perceberemos que estamos recebendo no Instagram postagens de quem sequer conhecemos, sejam perfis pessoais ou comerciais; não há dúvidas de que um interesse pecuniário muito forte comanda o jogo. Assim como o número de seguidores dá uma certa “importância” ao perfil, a quantidade de comentários também é outro critério para o impulsionamento/popularização. Em uma pesquisa simples e rápida – dê um Google – encontraremos sites oferecendo milhares de seguidores e comentários para suas postagens. Até mesmo é possível comprar robôs que disparam tais comentários, desde que nos dispusermos a pagar por isto.

         Pelo que acima expus, percebe-se a falta de credibilidade de muitos comentários em postagens, então, quero agora focar na condição humana de pessoas “de carne e ossos” e que apõem suas opiniões em postagens de terceiros. Seja qual for o assunto elas entendem de tudo, pressupõem-se donas da verdade, fazem piadas de mau gosto quando, não raro, manifestam comportamentos de ódio e de preconceitos que beiram a ações criminosas. Cuidado, pois as leis brasileiras, dentre elas, o Código Civil, Penal e o Marco Civil da Internet, são suficientes para enquadrar criminosos em delitos praticados pela Internet.

         Exemplos são fartos, basta um assunto de repercussão e pronto, teremos centenas, milhares de comentários! Na última semana de março deste ano um site de notícias publicou a seguinte manchete: “POR CAUSA DE UMA APOSTA, HOMEM BEBE GARRAFA INTEIRA DE PINGA E MORRE NO MATO GROSSO”. Poucas horas após a postagem já havia mais de 2 mil comentários sobre o assunto, e, como dito, de piadas infames, desumanas, a uma total falta de respeito tanto ao protagonista quanto a seus familiares. Uma das postagens, por destoar das demais, chamou-me a atenção. Uma mulher, de nome Carla, escreveu: “Olhando os comentários a gente percebe o quanto a humanidade se torna cada vez mais desumana. Empatia, respeito, parecem ser cada dia mais inalcançáveis.”.

         Faço da manifestação dela as minhas palavras. Há muito ódio, desamor, insensibilidade rondando nossa sociedade, e, pelas características das ditas “redes (anti) sociais” fica fácil escrever qualquer bobagem. Como psicólogo, quero chamar a atenção de que, ainda que sejam fatos envolvendo pessoas que sequer conhecemos, os que escrevem seus comentários não são pessoas tão diferentes daquelas às quais convivemos em casa, no trabalho, na escola ou na sociedade. Certamente são familiares, vizinhos, colegas de trabalho e de escola de alguém (ou nossos!), para os quais, transformar o que verbalizam em ações prejudiciais a si mesmo ou à sociedade, não falta muito!

         Comecemos por não aumentar as fileiras destes comentaristas inescrupulosos, o que já será um grande passo para não adoecermos moral, psico e socialmente. Avalie-se, estruture sua vida em condutas éticas, seja honesto consigo mesmo, busque ajuda sempre que for preciso. Lembro-me de uma culta figura pública da mídia cujas opiniões não eram do agrado de todos e que dizia à sua octogenária mãezinha para que não lesse os comentários apostos sob seus textos, pois veria muitas manifestações que a desagradariam e até poderiam machuca-la.

          Tenhamos cuidado com o que lermos, sem esquecer, que somos responsáveis também por nossas opiniões lançadas ao público. Não se trata de uma censura às diferentes formas de manifestações, direito constitucional sagrado, mas sim, um alerta para que saibamos nos manter saudáveis.

César Augusto – psicólogo

*texto publicado em abril de 2023