O Pensador - Auguste Rodin - 1904

          Pois num momento de mate, música e leituras me dei conta: estava ouvindo pelo Spotfy a edição da 5ª Coxilha Nativista de Cruz Alta (RS) – festival musical – onde entre a finalista e as vencedoras de suas categorias cantavam (os já falecidos) Luiz Carlos Borges, Ruy Biriva, Leopoldo Rassier, Eracy Rocha e tocava sua gaita o Lobisomen, dos Incompreendidos. Contextualizando, foram músicos de grande expressão no meio cultural e artístico do Rio Grande do Sul e que nos deixaram um vasto legado, os quais, ali, na melodia da hora do mate, ressurgiam com suas vozes e instrumentos na interpretação de suas músicas. Lembrei-me inevitavelmente da frase de Augustin Louis Cauchy: “O homem morre mas sua obra permanece”. Quantas artes ficaram eternizadas para a humanidade a partir da execução de seus autores? Atos, atitudes e artes que em muitas das vezes atendiam a um anseio de justiça, de criatividade, de evolução; que o digam Gandhi, Da Vinci, Freud, Rodin, Einsten, dentre tantos!

          Na mesma semana assisti ao documentário “2 for trips Lua de mel em 32 países – Youtube*”, feito por um médico oncologista (cuja esposa trabalha em sua companhia como enfermeira) e no qual relatavam passar por um processo de reflexão. Questionaram-se sobre: quantos dos pacientes que conheceram e que acabaram morrendo durante o tratamento, também tiveram ali, sepultados os seus sonhos? Vendo a morte prematura de alguma dessas pessoas, refletiram sobre suas próprias vidas e seus planos futuros, e, amantes do ciclismo que são, partiram para uma volta ao mundo em uma bicicleta de dois lugares acampando à beira das estradas em barraca e dormindo, cozinhando, banhando-se, com os meios que encontravam. Foram mais de três anos pedalando por 32 países com culturas e linguagens diferentes e interagindo com diversas pessoas pelos locais que passavam. Nem as adversidades climáticas que foram da neve ao calor extremo, do clima árido ao chuvoso, ou a fome e o cansaço físico, impediram de sentirem-se realizados com a viagem.

          Bem, e quanto às nossas obras: que estamos fazendo? Que legados deixaremos à família, aos amigos, à humanidade? Não precisamos nos colocar numa condição de inferioridade pensando que não somos capazes. Cada momento de carinho, de atenção ao próximo, cada atividade realizada que promova o bem torna-se um legado. Não precisamos pensar em coisas grandiosas: a simplicidade de atitudes de respeito, de socorro a quem necessite, de escuta a quem precisa desabafar, de ofertarmos um ombro amigo para um consolo, tudo vale. Quantas coisas boas existem nos dias de hoje que nem sabemos como iniciaram ou chegaram até nós, mas, que, na humildade ou no esquecimento de quem as deu causa nos servimos delas? Fica um sentimento de gratidão a estes anônimos, fica o ensinamento de que a mais simples de nossas atitudes pode fazer a diferença para uma grande obra, direcionada a nós mesmos ou a qualquer um que dela tire proveito para seu engrandecimento pessoal.

César Augusto – psicólogo

*artigo publicado em junho de 2023