Pois na Inglaterra um estudo iniciado no final do ano passado (2022) feito pelas Universidades de Oxford, Cambridge e Boston, colocou em prática (em 60 empresas e a um grupo de 3 mil funcionários por um período de seis meses) a jornada de trabalho de 32 horas semanais.  O resultado foi tão surpreendente que 96% das empresas testadas quer manter a jornada semanal de 4 dias de trabalho pois perceberam que o rendimento não caiu, até melhorou! Em números, 71% dos colaboradores tiveram redução de burnout  (um somatório de estresse agudo com sintomas físicos decorrentes de excesso de trabalho); 54% disseram sentir uma melhora na vida pessoal e profissional e foram constatados 39% menos casos de estresse.

          No Brasil, a pesquisa está em fase de testes, e, segundo matéria do jornal O Globo: “Menos ansiosos, mais produtivos e com a criatividade a todo vapor. É assim que se sentem funcionários de empresas brasileiras que adotaram a semana reduzida, com quatro dias de trabalho em vez de cinco, sem redução proporcional de salário.” Parece que em breve teremos algumas postagens com a expressão “quintou!”

         Para muitas pessoas, há no imaginário coletivo a conceituação de que boas mesmo são as férias, os feriados e feriadões, e que trabalhar é chato. É claro que encontraremos inúmeros motivos para concordar (e outros tantos para discordar), mas, sem priorizar a análise sobre o trabalho, vamos refletir sobre o tempo livre proposto pela jornada reduzida: como o aproveitaríamos? Faço esta mesma reflexão quando me dirijo àquelas pessoas que estão próximas de sua aposentadoria perguntando-lhes: “Agora que é você quem define o que fazer, como utilizará de seu tempo?”

         Vamos encontrar este dilema em uma obra escrita a aproximadamente dois mil anos (sim, à época de Cristo) intitulada “Sobre a brevidade da vida”, do filósofo Lúcio Aneo Sêneca, atualíssima! A certa altura ele cita o poderoso primeiro Imperador Romano Otávio Augusto, o qual, cansado dos afazeres públicos clamava pelo ócio! Diz em sua obra: “O ócio era uma coisa tão desejada que, por não poder dele desfrutar, antegozava-o em pensamento”. O homem mais poderoso do Império Romano, que decidia a sorte dos homens e das nações, “… com muito prazer sonhava com o dia em que se despojaria de sua magnitude.” E não passava de um sonho, viveu até os 75 anos morrendo de causas naturais, embora suspeitas de envenenamento recaiam sobre a esposa, não sem antes ter sobrevivido a uma tentativa de homicídio  pela própria filha.

         É importante que encontremos um ponto de equilíbrio entre o trabalho e nossos compromissos e/ou papeis sociais. Precisamos trabalhar, mas não podemos esquecer de dar atenção às nossas relações de afeto, sociais, aos cuidados com a saúde (alimentação, práticas de atividades físicas, sono) além da espiritualidade. Penso que um dia a menos na jornada de trabalho – se não fizermos bom uso dele – trará apenas um impacto inicial, assim como aquele aumento de salário que nos primeiros meses é tão significativo e logo em seguida já estará incorporado como parte de nossas dívidas sem que nos demos conta do ganho. Quintou? Então prepare-se para tirar disso um bom proveito.

César augusto – psicólogo

texto publicado em julho de 2023