Em tempos de quarentena todos temos ouvido muito o apelo para ficarmos em casa, o chamado isolamento social. Agora, o que torna a reclusão, para alguns, um verdadeiro castigo enquanto que para outros algo mais ameno? Dois trabalhadores de um mesmo setor de uma empresa podem encarar o isolamento com pontos de vista absolutamente distintos: para um, é uma tortura, enquanto que para o outro é um momento de satisfação por poder fruir melhor de seu tempo. A vida é assim, uma sensação de que o tempo voa e que de repente parece que precisamos de mais tempo ainda (e pressa) para fazer as coisas. Quando aprendermos a vivenciar os instantes de cada dia, a plenitude do momento, aquele vazio de que algo está faltando, deixará de existir.

          É atribuído a Santo Agostinho um texto onde diz que ao final do dia (ele) tinha por hábito fazer uma reflexão sobre como fora seu comportamento naquela jornada, questionando-se se não faltara com algum dever ou se alguém tivera motivos para dele queixar-se. Desta forma, procurava ampliar o conhecimento de si mesmo como condição para tornar-se melhor no dia seguinte. Se tivéssemos esta disciplina agostiniana, com certeza nossas vidas teriam outro sentido. Por que isolamento tem de parecer como algo desagradável? E se eu olhar como uma forma de amor próprio ao preservar-me por não me expor à uma enfermidade ao mesmo tempo em que assim agindo também colaboro com o próximo? E se, em decorrência do isolamento eu aprender a reutilizar meu tempo promovendo mudanças em meu trabalho, na rotina, no convívio com a família e isto for mais animador?

           Às vezes as oportunidades surgem de maneira que não as percebemos, e, certamente, não as veremos se estivermos envolvidos em lamúrias. Olhar positivamente para a vida, estar atento ao que se pode aprender com seus ensinamentos, poderá nos tornar alunos melhores desta escola. Aquele que puder encontrar o seu equilíbrio neste momento ímpar pelo qual passamos, sairá para a próxima etapa com algo mais em sua bagagem.

           E se uma pequena parte do tempo de isolamento fosse utilizada para uma meditação? Uma meditação desprovida de qualquer caráter religioso, aquela que dá origem à palavra no termo latino de “meditare”, que significa voltar-se para dentro. Voltar o nosso olhar para nossas necessidades, nossa realidade, para as nossas vidas. Gostei muito de uma frase que li, onde dizia que sempre se ouvem as árvores quando tombam na floresta, mas nunca se escuta o seu crescimento expressando a vida. É deste silêncio que precisamos, para a escuta, aquele que permita aquietar nossa alma, deixar-nos “centrados” – o que é outra forma de entendermos a origem da palavra meditação.

         Isole-se, silencie-se, cresça. Precisamos de um mundo melhor, de gente melhor.

César Augusto – psicólogo

*publicado em abril 2020