Asterix foi um personagem de histórias em quadrinhos que fez parte de minha infância; Criado por Uderzo e Goscinny, trazia de forma bem humorada o cotidiano de uma tribo gaulesa que era a única resistência ao poderoso Império Romano, porém, ainda que fortes (auxiliados por uma poção mágica feita por seu druida), tinham um único medo: o de que o céu lhes caísse sobre a cabeça. “Por Tutatis!!” era a exclamação para invocar a proteção da deusa celta da guerra.

          E a que recorremos quando estamos com medo? Temos medo? Claro que sim, ele é uma das emoções básicas que nos constituem, tão importante quanto a alegria e a tristeza, mas é uma emoção da qual procuramos não falar. É compreensível, pois expor nossos medos podem nos tornar mais frágeis, vulneráveis nas relações sociais, afetivas ou de trabalho. Mas como lidar com ele?

          O primeiro grande passo é reconhece-lo, pois nega-lo não significa que esteja superado, ele continua lá, a nos espreitar. Em aceitando-o, passamos a ter consciência de que o medo pode nos proteger, não fosse assim, nossos ancestrais não teriam sobrevivido, aniquilando qualquer possibilidade de que pudéssemos estar vivos hoje. Ter medo, com inteligência, é garantir a sobrevivência, enquanto que ter medo em excesso pode ser paralisante, aniquilador, o que passa a ser um problema. É importante sabermos que além da função de nos garantir a sobrevivência física (medo de alturas, de animais peçonhentos, de se expor a um perigo…), existe também o medo que visa a proteger a um Ego adoecido, aquele que tem a necessidade de se manter enaltecido, exaltado e sempre elogiado. Então, sermos descobertos, desmascarados em nossas intenções e fragilidades pode custar muito caro à nossa imagem; por isso o medo.

          Mas como perceber se o medo está prejudicando nossas vidas? O psicólogo Marlon Reikdal em seu livro “Cultivo das emoções” (super recomendo, meu exemplar ganhei de presente e sou muito grato a quem me deu) descreve alguém com medo: “Não enxergamos o quanto deixamos de oferecer ao mundo, o que temos de melhor quando não falamos às pessoas quão importante são em nossas vidas ou quanto as amamos, por temor de sermos rejeitados.” São os medos de um ego doentio que atrapalham os relacionamentos em família, no trabalho e na sociedade. Queremos filhos educados e com uma vida saudável e equilibrada, mas temos medo de falharmos como pais; deixamos de assumir alguns compromissos sociais ou de tomarmos iniciativas por medo de, em não dando conta, sofrermos as críticas. Complementa Marlon: “Quando movidos pelo ego adoecido, servimos ao deus da aparência, da exterioridade e, por consequência nos mantemos inseguros e amedrontados pelo receio de não sermos amados. ”

          Quando pensamos que o melhor é sermos simples, humildes, introvertidos, devemos ter o cuidado de não nos enganarmos, pois, estas condutas podem nos desviar de trabalhos que auxiliariam muito aos outros e a nós mesmos, nos ensinando, nos fazendo aprender com as lições da vida. Buscar a coerência em nossa essência sendo sinceros nas relações com os outros e conosco mesmo, nos fará perceber que isto traz segurança, e, é justamente ela que poderá nos estabilizar frente as oscilações da vida fazendo com que aprendamos a lidar com o medo. Ficaremos livres do medo? É claro que não, mas seremos pessoas melhores para uma sociedade que precisa de muitas atitudes de coragem: para amar, para viver e para sermos felizes!

César Augusto – psicólogo

* texto publicado em fevereiro de 2023