“Tenho percebido um interesse bastante grande das crianças em aprender a tocar um instrumento. Mas, muito mais do que isso, os alunos precisam ser estimulados a ter esse contato com a educação musical, ampliar seus horizontes e também aprender novas formas de interpretar o mundo. Estes, talvez, sejam os pontos mais importantes da Escola Pública de Música” - Yamandu Costa

          Dia destes eu passava em frente à Escola Pública de Música Yamandu Costa e à porta estava meu amigo e colega de outras jornadas o professor, maestro, multinstrumentista Mestre Daisson. Gosto de denominá-lo assim pela importância que atribuo àquele que tem a função de ser educador, e, na arte da música, meu amigo é um exemplo de dedicação. Acenou chamando-me para entrar e conhecer a escola, e, na companhia do seu colega professor Rodrigo circulamos por todas as salas. Fiquei impressionado com a qualidade dos ambientes (acústicos, como deveriam ser) e imaginando a alegria de quantos adolescentes serão privilegiados por estudarem lá. É um projeto do município de Passo Fundo, recém-inaugurado, e que contou nesse ato com a presença (além de outros músicos gaúchos de expressão internacional) de um ilustre filho passofundense e que empresta seu nome à escola: Yamandu Costa.

         Após a breve visita retomei minha caminhada e fiquei a refletir sobre o quanto a música faz parte de nossas vidas e da história da humanidade. Como instrumento musical mais antigo no mundo, há registros de uma flauta feita de osso de um pássaro datada de mais de 35 mil anos. Há música abundante na natureza, no sopro do vento, no farfalhar das árvores, na comunicação entre os animais… ou em frequências que a audição humana é incapaz de atingir. Há música em meu local trabalho; sim, a da sala de espera, aleatória e harmonizadora e com a função de impedir a escuta através das paredes; tenho música ambiente na sala onde trabalho, para desviar da algaravia da rua com seus carros, frenagens e buzinadas… serve para tornar o local acolhedor. Escuto música também quando caminho, quando nado, quando leio, ela faz parte de minha vida, e, como descendente de uma família de músicos até arrisco a tocar alguns instrumentos, para meu consumo é claro. Quando em meu trabalho voluntário colaboro nas atividades de motricidade/equilíbrio com deficientes visuais conduzindo-os em bicicletas tandem (de dois lugares) e levo música, percebo que a disposição do grupo é outra, torna-se mais animado e fica mais participativo!

          Há música que propicia ao seu executor levar o prato de comida para casa, outras alegram ambientes, algumas servem para realização pessoal, para amenizar dores, para encontros e despedidas, para cirurgias hospitalares, para plantas crescerem e há até música para o gado produzir mais leite e/ou galinhas porem ovos… O mundo é musical, o Universo uma sinfonia. Tenho também um amigo musicoterapeuta, o Fernando Caierão, que da sua habilidade artística e da formação em fisioterapia faz um trabalho fantástico em reabilitação de seus pacientes utilizando-se da música.

          Quem toca um instrumento precisa ter disciplina, obedecer a regras, saber viver em conjunto, respeitar o tempo musical (seu e do outro instrumentista), submeter-se a uma tonalidade, ou, quando não estiver em atuação como solista, executar seu instrumento com modéstia, até mesmo sem ser percebido, pois é a harmonia do todo que se sobressairá e valorizará a apresentação. Disciplina, modéstia, humildade, perseverança, colaboração, quantas coisas a música propicia. Quem atinge estas qualidades vive bem.

          E como tu percebes a música em tua vida? Quem ouve música aprecia uma das sete artes definidas por Ricciotto Canudo no Manifesto de 1911, pode alimentar-se de poesia, embalar-se em ritmos e ir ao encontro de sua sintonia. Som é energia, é frequência, é vibração, e nossos corpos os produzem nos batimentos cardíacos, na respiração, na circulação sanguínea, na voz ou em nossos movimentos. Temos um microcosmo musical também em sentimentos e emoções, pouco perceptível, mas basta que saibamos escutá-lo: sinto-me alegre, triste, ansioso, com medo? Disso resulta minha energia. Obedecer nosso ritmo para trabalhar, para descansar, ou para escutar o outro, é estar harmônico na musicalidade da vida e da Natureza. Assim como os alunos da Escola de Música Yamandu se propõem a aprender esta arte (não imaginando sobre o quanto isso irá colaborar para melhorar suas vidas!), busque harmonizar a tua vida, a torna-la melodiosa e a escutar mais! Há muito barulho a nos desorientar do sentido da vida e a perturbar com que alcancemos nossos objetivos. Torne a música mais presente em teu dia sentindo-a como uma ferramenta de tua psicoterapia; ganharás em saúde e satisfação.

César Augusto – psicólogo

*Texto publicado em maio de 2023