“O homem preocupa-se em viver muito, e não em viver bem, quando não depende dele viver muito, mas sim, viver bem.”

 Sêneca – 4 a.C.

 

 

          Escrever sobre o tempo é argumentar sobre uma das grandes causas de aflições existenciais da humanidade. Se na mitologia grega a deusa Hebe tinha o privilégio da eterna juventude, na história, Alexandre, o Grande, teria procurado pela fonte da juventude – ou pelo rio da imortalidade – durante sua campanha na Índia. Ponce de Leon, por sua vez, buscava-a também enquanto Peter Pan recusava-se a crescer na tentativa de preservar sua jovialidade.

          Mas o que está por trás do desejo de se ter o controle sobre o tempo, inexorável carro conduzido diariamente pelo deus Sol sobre as nossas cabeças? Arrisco-me a dizer que esta é uma preocupação daqueles que não sabem viver seus dias, dos que não se deram conta de que o dia é a mais justa dádiva e onde todos temos a mesma quantidade de horas e de minutos para aproveita-lo.

          Volto à citação de Sêneca nos alertando para que saibamos viver. Se a luta contra o tempo é batalha perdida, pois o tempo a tudo devora (basta compreendermos o conceito oriental de impermanência, o de que tudo tem um fim) o foco então deve estar sobre como vivemos, e não o quanto vivemos. Qualidade, e não quantidade!

          Viver bem é ter consciência de que “somos nós quem passamos pelo tempo”, por quê? Porque erramos quando dizemos -sem pensar- que o tempo passa! Toda a vez que eu falar assim significa que estou dando ao tempo o poder de agir, passar pela minha vida. É o contrário, a atitude tem de ser minha: afinal eu faço, eu posso, eu deixo, EU SOU o agente de minha vida! Então controlar o tempo é ilusão, estar presente e consciente nele é o que importa. É saber olhar-se.

          Ao olhar para o que como, bebo ou faço, eu interfiro em minha saúde. Ao ter consciência de que não devo ser tão crítico com os outros é que relaxo e permito não estressar-me, ter mais leveza na vida. Ao estar presente nos momentos importantes de minha família eu percebo que dedicar-me ao trabalho é necessário, mas não mais do que estar com os meus afetos. Um dia saio da empresa, me aposento ou vou buscar novos rumos, mas o apoio dos familiares poderá ser meu grande suporte para sempre.

          Então, meu tempo é hoje, e o que fizer dele tornar-se-á meu presente.

          Viver o hoje, o aqui/agora, é viver a vida.

 

César Augusto – psicólogo

*publicado em julho 2022