Recentemente um programa de televisão apresentou uma matéria sobre um restaurante na Itália que concede desconto de 10% nas despesas quando os filhos, na companhia dos pais, portam-se de forma educada. Em contrapartida, apresentou outro restaurante – também italiano – que apõe na entrada um cartaz avisando que “Crianças menores de 5 anos não são bem vindas…”, com a alegação do gerente de que prefere perder alguns clientes mas ganhar, por outro lado, com aqueles que frequentam o local também por ser sossegado.

          Porém o que mais me chamou a atenção foi que as pessoas entrevistadas, de uma maneira em geral, entendem que a responsabilidade pelo comportamento inconveniente é dos pais, e não das crianças. Então é aos pais que me dirijo: cuidado com os rótulos! Por muitas vezes os filhos são tidos como hiperativos (quando não, entupidos de remédios) e isto basta para que alguns pais justifiquem as estrepolias. Por outras, confundindo liberdade com permissividade desregrada, uma espécie de compensação de que seus filhos não sejam tratados com a mesma rigidez que tiveram nas suas infâncias, desconsideram que ambientes de uso comum requerem regras e respeito em comum.

          É muito importante que os pais tenham consciência do lugar de autoridade que ocupam, aliás, autoridade muito fácil de ser perdida por suas próprias atitudes ou omissões. Aqueles pais que têm dificuldades em dizer um não, um basta, ou mesmo a agir de forma repreensiva por não querer frustrar seus filhos – e a si mesmo, com certeza – acabam deixando que outros ocupem estes papéis. Sendo a escola o primeiro ambiente extrafamiliar, é de lá que vem as primeiras informações sobre o comportamento dos filhos, depois, vem da sociedade através de Conselho Tutelar, da polícia, de órgãos de trânsito, da justiça, dos empregadores, etc…

          No exemplo dos restaurantes, seria lógico pensarmos que antes de uma rejeição, o que queremos e nos agrada é o acolhimento, aceitação. Entendo que não é justo tão somente culpar aos pais pela maneira equivocada como alguns deles educam seus filhos. Devemos ter consciência de que muitos apenas reproduzem um modelo que lhes fora dado, quando não, precisam até mesmo criar uma forma de serem pais justamente pela ausência que tiveram dos seus, nas suas infâncias. Estes pais precisam saber posicionar-se, afinal, algumas coisas que valiam para uma ou duas gerações atrás podem ainda continuar valendo, porém, precisam ser contextualizadas.

          Então, antes de tornar-se ausente para seus filhos, avalie sobre como está a qualidade de relacionamento na família. As funções paterna/materna são apenas exercícios de tratamentos com os filhos, não há nada de gênero nestes papéis, algo que seja “coisa de homem ou de mulher”. Os casais (ou mesmo pai ou mãe que não tem com quem compartilhar estas funções) podem e devem exercê-las da melhor forma para o bem de seus filhos.

          O maior prêmio que um filho pode ter é o amor, a atenção e a educação de seus pais, não apenas uma recompensa por bom comportamento, como quem dá um torrão de açúcar a um bichinho adestrado. Decorrência de uma educação justa, o ganho dos pais virá não em forma de descontos na nota fiscal, mas, através do orgulho de ter feito o melhor possível pelos seus filhos.

César Augusto – psicólogo

*texto publicado em abril de 2017