Coloquei no google* a pergunta “Qual a primeira coisa que você fará ao passar a pandemia?” e uma cascata de sites de todo o Brasil apareceu fazendo o mesmo questionamento. Ao ler algumas das respostas, fica claro que de norte a sul os desejos são muito parecidos: matar saudades de familiares, abraçar, beijar, almoçar juntos e comemorar misturam-se à vontade de voltar a viajar, caminhar pela cidade, reunir amigos num bar, praticar esportes coletivos, ir à praia, cinema, estádios de futebol, shows…

         Sabe o que isto me lembra? Àquelas ocasiões em que falta luz justamente quando estamos no chuveiro…. Todas as vezes anteriores durante o banho a energia elétrica estava lá, a água estava agradável e sequer valorizamos a sua presença. Mas no exemplo acima, a ausência fora obviamente notada e lamentada. Não te parece que as respostas das pesquisas estão na mesma linha? Tudo isso que é desejado agora era possível de ser feito antes da pandemia, porém, o excesso de trabalho, o cansaço ou a rotina nos impedia ou limitavam-nos de realizá-los. Cumprimentos -muitas vezes por obrigação- à distância e por mensagens, almoços onde muitas vezes ranços antigos entre familiares terminavam em discussões à mesa; esbarrões de ombros em shoppings, filas de cinema ou estádios eram só mais um incômodo quando se caminhava por estes locais. De repente, queremos tudo de volta imaginando que será diferente.

          Mas não será diferente se voltarmos os mesmos. O que aprendemos com tudo o que percebemos durante este período? A natureza não dá saltos; quem sempre foi grato, quem valorizava a empatia, respeitava o próximo, manifestava atitudes de bons modos e de educação, voltará como era. Quem sempre fez tudo ao contrário está tendo uma grande oportunidade em transformar-se, para melhor.

          Em que grupo nos encontramos? Esta é uma das tantas reflexões que precisamos fazer para podermos perceber que não será por mágica que poderemos voltar a fazer aquilo que tanto desejamos quando “isso” passar. Muito além de desejos, será por atitudes para a reconstrução de um novo momento – amadurecido à força para alguns- que haverá a transformação. Quanto estamos dispostos a mudar? Sabemos o que queremos/precisamos mudar?

          Buscar nos dias de hoje formas de autoconhecimento nos dará condições para bem enfrentarmos as transformações que seremos forçados a aceitar em todos os campos: no trabalho, na família e na sociedade. Se muitas coisas serão diferentes, quando “isso” passar, não poderemos continuar sendo os mesmos. A psicoterapia pode nos auxiliar nesta transformação.

César Augusto – psicólogo

*publicado em agosto de 2021