Festas de final de ano têm sido boas desculpas para comilanças e excessos, e geralmente, para que as preocupações com o peso fiquem para o próximo ano. No entanto é preciso que identifiquemos: qual a nossa relação (se é que existe) com a balança? Estética ou efetivamente voltada à saúde?

         Hábitos alimentares são muito complexos e estão relacionados a questões culturais, sociais, econômicas, biológicas, afetivas, dentre outras, daí que um tratamento psicoterápico para uma eventual mudança requer uma abordagem multidisciplinar. Do ponto de vista da psicoterapia é frequente que algumas pessoas nos procurem pedindo auxílio para perder peso, ou então, para poder manter-se em um tratamento relacionado – seja pré ou pós cirúrgico – ou apenas em apoio às exigências de um nutricionista. Há uma meia verdade de que “é preciso mudar a cabeça, não ficar com cabeça de gordo (sic)…”, sugerindo que o sucesso de uma reeducação alimentar passe unicamente por uma questão de vontade e mudança de comportamento.

         Estudos mostram que algumas formas de intervenções psicoterápicas influenciam nos resultados para a manutenção do novo peso, todavia, é preciso ter um cuidado personalizado, pois o que pode ser bom para uma pessoa talvez não seja para outra. Trocar um estado de ansiedade com compulsão para a comida por outra forma de compulsão que leve à anorexia, drogadição ou algum hábito nada saudável, é trocar seis por meia dúzia. Um acompanhamento por parte do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em pacientes submetidos a cirurgias bariátricas, revelou que depois de cinco anos parte significativa deles apresentava transtornos como o consumo excessivo de álcool, anorexia e bulimia. E, para a infelicidade destes, 64,15% voltaram a se tornar obesos, sendo que 13% chegaram ao estado de obesidade clinicamente severa. Somente 7,84% dos pacientes mantiveram o peso ideal, ainda assim, apresentando algum distúrbio correlato. Do Hospital das Clínicas de São Paulo, dados similares informam que 40% dos pós cirúrgicos afirmaram continuar a sentir vontade de comer em situações de ansiedade e de depressão, e que a maioria deles não inclui a rotina de acompanhamento psicológico pós operatório. Mas isto não serve para desanimar ninguém.

         Para quem mantém vigilância em relação ao seu peso, é preciso muita informação, disciplina e apoio quando se trata de desenvolver e cultivar novos hábitos alimentares e de comportamento para obter um novo estilo de vida. Mais do que uma preocupação estética, trata-se de uma condição de saúde e de bem estar, pois uma alimentação saudável está relacionada a bom humor, menor agressividade, melhor qualidade de relacionamentos afetivos e sociais, aumento de desempenho cognitivo/aprendizagem, menor índice de casos de depressão e tantos outros benefícios. Um acompanhamento psicoterápico é um ótimo aliado na conquista – e manutenção – destes objetivos.

Só ganhos.

 

César Augusto – psicólogo

*  texto publicado em janeiro de 2016