Você está dirigindo-se para seu trabalho, em seu veículo, quando tem seu trajeto abruptamente cortado: o condutor à sua frente dá uma guinada em direção a uma vaga de estacionamento obrigando-o a frear rapidamente. Após o susto, sua vontade é a de xingá-lo, mas contém-se, ainda que com um frio na barriga e um palavrão entalado na garganta. Para seu organismo houve uma descarga de cortisol – o hormônio do estresse –  a qual, em se tornando frequente, poderá lhe causar graves danos à saúde. Passado o susto, você relata o acontecido a seus amigos como se o outro motorista tivesse feito aquilo justamente para lhe atingir. Aí é que entra a sabedoria dos Toltecas.

          Os Toltecas foram um povo da nação mexicana que antecedeu aos Astecas por volta do final do século VI e foram definidos por Don Miguel Ruiz como homens e mulheres de sabedoria e que tinham por modo de vida a prática de quatro grandes compromissos. O exemplo acima faz-me referir ao compromisso que aconselha a que não levemos nada para o lado pessoal. No caso descrito, o motorista à sua frente foi negligente consigo mesmo e poderia ter causado um acidente apenas pelo afã de querer ocupar a vaga do estacionamento na rua; não teve intenção alguma de causar mal a alguém. E agora, quem poderia desfazer a ação estressora a que você submeteu-se por embrabecer com o ocorrido? Esta foi a sua atitude, embrabecer-se! E nós, quantas vezes discutimos com quem nem conhecemos – e não querem nos causar males – por exemplo, ao darmos um telefonema do tipo 0800, ou, quando recebemos uma ligação de telemarketing na hora mais indesejada?

          Se pudermos seguir o compromisso tolteca da impessoalidade sofreremos menos e seremos mais saudáveis. Agirmos como se as coisas fossem dirigidas unicamente a nós, é como estarmos presos a um comportamento egoísta sem nos darmos conta, afinal, o que os outros fazem diz respeito a eles e não a nós, ou seja: devemos ter responsabilidade com nossos próprios atos, e não, com as atitudes dos outros.

          Então, que tal passar a olhar mais para si, amar-se, descobrir-se, poder viver dando a mínima (ou nenhuma, quem sabe!) importância ao que os outros dizem ou fazem? Vivemos em coletividade, o respeito mútuo é a regra de ouro para que as coisas andem bem; sejamos mais tolerantes nestes tempos pandêmicos e sofreremos menos.

          Mãos em prece.

César Augusto – psicólogo

*publicado em setembro de 2021