Há uma exigência social demasiada com relação ao papel dos professores, cobranças que às vezes são injustas na medida em que se esperam providências ou procedimentos que não lhes caberiam, ao mesmo tempo em que por parte destes há uma queixa da falta de envolvimento dos pais na vida escolar de seus filhos. Em decorrência disto, diversas pesquisas no Brasil convergem para uma conclusão: a categoria profissional de professores é uma das mais afetadas pelo estresse.

          Neste interjogo de expectativas e frustrações, de sobrecargas de jornadas de trabalhos, às vezes divididos entre escolas da rede pública ou privada onde se tenta conciliar interesses pessoais, surge o adoecimento laboral e uma tensão constante que leva o estresse a se tornar crônico. “Nesse estágio, podem aparecer problemas emocionais, hipertensão, úlceras, gastrites, fadiga crônica, diabetes e alterações no sono, dentre outras manifestações”, explica Ana Maria Rossi. – presidente da ISMA, International Stress Management Association (uma associação internacional para estudos, pesquisa e desenvolvimento da prevenção do estresse).

         O que muitos professores deveriam considerar, é que os problemas que se manifestam no corpo como falta de voz, dores de coluna, de cabeça, pressão arterial elevada dentre outros, são decorrentes da atividade laboral, mas que poderiam ser minimizados se mantidos o equilíbrio físico e mental. Em um levantamento realizado entre professores de nível universitário em Minas Gerais apurou-se que 48,6 % fazem uso de automedicação como forma de solucionar seus problemas, e ainda, que há aqueles – somados a estes ou não – que recorrem também ao consumo de bebidas alcoólicas como paliativo. Ambas as medidas são notoriamente abomináveis e não servem como solução. Medidas estruturais dos sistemas de ensino, melhores condições de trabalho, de remuneração e de credibilidade aos professores seriam basilares para a provocação de mudanças neste quadro. Dentre o que poderiam os professores fazer para minimizar os efeitos negativos do estresse, é o que sempre se recomenda a uma vida saudável e de melhor qualidade: a prática regular de atividades físicas não competitivas, alimentação adequada (no caso específico habituar-se a tomar muita água e evitar o cafezinho e os cigarros), buscar um sono reparador e um convívio social que inclua também pessoas de outras atividades profissionais.

         São muitos os sentimentos de um professor adoecido, e alguns o levam a negar a si mesmo sua fragilização, passando a trabalhar de qualquer jeito. A negação, como mecanismo de defesa psíquica, acaba sendo extremamente prejudicial na medida em que os professores vão desconsiderando pequenos avisos de estresse, assim, somente com um “apagão” (burn out) é que deparam-se com as limitações da doença.

          Porém hoje, quando as afecções de saúde mental (estresse, depressão, fobias sociais, p.ex.) que atingem milhares de pessoas em todo o mundo passam por um processo de maior reconhecimento, o momento é o de poder se abrir para a compreensão de que doença ocupacional não é um fracasso individual, mas resultado de um processo coletivo e que necessita de uma discussão na própria categoria e no corpo dissente.

César Augusto – psicólogo

* texto publicado em março de 2019