O título deste texto é o mesmo da obra de Marco Aurélio (121-180), imperador romano por dezenove anos e que passou à História como um governante culto dedicado à filosofia. Sua obra é o resultado de anotações de suas reflexões a respeito de temas existenciais tais como a felicidade, as virtudes, o amor e a morte. Escritas há mais de mil e oitocentos anos, suas palavras permanecem atualíssimas e aptas a nos ensinar nos dias de hoje.

          Um de seus registros começa assim: “Ajusta-te às coisas que te foram destinadas pela sorte; e ama, mas verdadeiramente, as pessoas que o destino a ti apontou para a convivência.”  Ajustar é um verbo, um conselho que nos obriga a tomar uma atitude, a agirmos para bem convivermos com aquilo que recebemos. Ajustar-se, aqui, é o conselho para pararmos de nos queixar das mazelas da vida, de ficarmos reclamando de tudo ou de todos, é um convite para seguirmos em direção às realizações, à felicidade. Todavia, o filósofo nos pede também para amarmos, de verdade, aqueles que fazem parte de nosso convívio. Quem seriam eles? Nascemos em uma família, mais tarde vamos para a escola para depois circularmos pela sociedade como estudantes ou profissionais. Então, são tantos com os quais convivemos quantos deveriam ser as pessoas a amarmos. O Cristo ensinou-nos a amar ao próximo como a si mesmo; Buda nos disse que o ódio não termina com ódio, mas com amor; ademais, de Francisco de Assis a Francisco Xavier encontraremos tantos e tantas pessoas de bem que dedicaram suas vidas ao cultivo do amor, que seria impossível os enumerarmos.

          Nestas tão poucas linhas de Marco Aurélio fica a mensagem de que é preciso de nossa parte o esforço para amar e para convivermos bem e em paz com todos. Quantas pessoas escuto nas sessões de psicoterapia que relatam seus sofrimentos, muitos dos quais, poderiam ser minimizados com um pequeno gesto, uma leve pitada de amor! De quem se queixam? Do marido, da esposa, dos filhos, de colegas de trabalho… daqueles com os quais convivem.

          Amamos quando paramos para escutar o outro ou quando respeitamos o seu silêncio. Amamos também quando nos oferecemos para ficar ao seu lado, ativamente, participando. Gratidão.

César Augusto – psicólogo

*publicado em abril de 2022