Uma das formas de ofender alguém é chama-lo de inútil: sinônimo de falta de serventia ou de algo que não tem utilidade. É o mesmo que dizer que não serve para nada. Obviamente que, em tendo um propósito de vida, todos nós necessariamente deveríamos nos preocupar em termos alguma utilidade. Diz a sabedoria popular que ninguém é tão pobre que nada tenha a ofertar… então, o que estamos fazendo de nossas vidas? Já descobrimos sobre o que temos para dar, e, a pergunta: o estamos dando? Recentemente o Papa Francisco fez esta manifestação em sua conta de twitter: “Ninguém é tão pobre que não possa dar o que tem, mas antes ainda aquilo que é.” Obrigatoriamente somos levados a concluir que o ideal seria podermos dar aquilo que somos. Sou educado? Pontual? Respeitoso e atencioso? O que estou dando aos familiares, amigos e desconhecidos?

          Assim disse o secretário-geral da ONU, António Guterres. “Ainda que os voluntários estejam melhorando a vida de outras pessoas, suas próprias vidas são frequentemente transformadas pelo próprio ato do voluntariado”. É bem isso, é comum ouvir de voluntários manifestações do tipo “… pensei que iria lá ajudar e voltei com a sensação de que quem mais ganhou foi eu!” O bem-estar que ações voluntárias traz ao estado emocional é tão grande que a saúde como um todo é beneficiada; amplia-se a rede de amigos, preenche-se um vazio existencial que não se compreendia, além do que, o contato com realidades socioeconômicas diferentes das do voluntário, transforma sua percepção de mundo e afeta sua consciência.

          Participar de ações voluntárias gera um propósito dando sentido à vida, isso amplifica a satisfação da pessoa em viver e transforma sua percepção de felicidade, o que aumenta o seu bem-estar melhorando as relações entre familiares, amigos e colegas de trabalho. Nestas horas sempre lembro de uma alma nobre que diz que só é solitário quem não é solidário e que a melhor maneira de autoamar-se é abraçar um ideal de solidariedade humana. O trabalho voluntário nos mostra o quanto a união de esforços torna-se poderosa e quebra um paradigma: o de tratar-se apenas de uma ação caridosa. É claro, caridade é uma forma de amar, mas é muito mais. O trabalho voluntário pode resgatar a dignidade das pessoas; pode propiciar bem-estar, saúde, alimentação, abrigo, aquilo que Maslow coloca como a base da pirâmide nas necessidades básicas e que são imprescindíveis a qualquer um. Sim, há também voluntariados não menos importantes e voltados à preservação do meio ambiente, das causas animais, das chamadas minorias sociais, mas todos resultando em benefícios tanto a quem os recebe quanto a quem os pratica.

          Quer um novo ano diferente e melhor? Que tal pensar em um trabalho voluntário para 2023? Mas, mais do que pensar, pô-lo em prática, agir, pois todos temos algo valioso a dar e sempre haverá alguém precisando.

Feliz Ano Novo!

 

Obs* Enquanto a ONU comemora mais de 50 anos de seu programa de voluntariado, no Brasil, a Lei nº 9.608 de 18/02/1998 dispõe sobre o serviço voluntário.

César Augusto – psicólogo

Publicado em janeiro de 2023