Você já sentiu algum tipo de prejuízo que possa estar ligado à sua imagem corporal? Algo como deixar de frequentar uma piscina ou uma academia por sentir vergonha de seu corpo? Ou então, não comprar ou deixar de utilizar alguma roupa por algum tipo de constrangimento? Bem, isso pode acontecer, mas é importante que possamos compreender o que se passa: se, estamos de fato, com algum problema que relacionamos à nossa imagem ou estamos com uma visão distorcida sobre nós mesmos. No Brasil, um estudo recente aplicou um questionário a aproximadamente 300 estudantes de cursos de nível superior perguntando sobre imagem e satisfação corporal e representações sociais de seus corpos. Os resultados demonstraram que, apesar de apresentarem uma auto percepção corporal normal, as estudantes disseram estar, em geral, insatisfeitas com sua aparência. É possível compreender melhor quando consideramos um apontamento encontrado na literatura específica onde diz que “a imagem corporal é uma percepção que integra os níveis físico, emocional e mental”. Uma autoestima saudável é encontrada quando nestes campos há uma harmonia de valores, ou seja, a pessoa aceita-se como é fisicamente ao mesmo tempo em que age com equilíbrio emocional e mental.

          Vamos encontrar na Classificação Internacional de Doenças, (CID-11) a codificação 6B21 para Transtorno Dismórfico Corporal, o qual é caracterizado por uma preocupação persistente com um ou mais defeitos ou falhas percebidos na aparência, que ou são imperceptíveis ou apenas discretamente perceptíveis para outros. Mesmo que aquilo que a pessoa defina como “seu problema” aparente ser insignificante, para ela, ao contrário, é altamente significativo, ao ponto de gerar ansiedade, insegurança e medo em se expor.

          Mas, e quando a insatisfação com a imagem corporal está em nível emocional ou mental, nos damos conta? Aquilo que a CID-11 define como “falha ou defeito” é imaginário, apenas a pessoa acometida o percebe, mas, mesmo assim, gera sofrimento.  Alguns sintomas característicos deste transtorno de acordo com tal Classificação “… são suficientemente graves para resultar em sofrimento significativo ou prejuízo significativo na funcionalidade pessoal, familiar, social, educacional, ocupacional ou em outras áreas importantes da funcionalidade.” Em nível emocional não há argumento que convença quem esteja com tal transtorno a mudar de opinião, a realidade é que ela sofre. Obviamente que, em se tratando de alguém diagnosticado por um especialista e estando sob tratamento psicoterápico e/ou medicamentoso, a abordagem clínica buscará a integração dos campos físico, emocional e mental de maneiras a minimizar o sofrimento.

          Visando trazer o conteúdo deste texto para algo mais prático, vivenciado por todos, pensemos sobre o que olhamos diariamente em nossos celulares nas ditas redes sociais: vemos um mundo criado e ostentado por pessoas reais, sujeitas às vicissitudes do cotidiano onde, as perfeições apresentadas em fotos filtradas e sorrisos retocados podem dar a falsa impressão de que as “falhas e defeitos” não existem para eles, apenas para nós. Se nos iludirmos de que existe um mundo perfeito e estamos excluídos dele seremos presas fáceis para o sofrimento decorrente, aumentando casos de ansiedade de frustrações e de depressões.

          Se você perceber que está na hora de colocar seus pés mais no mundo real e menos no virtual; se está sentindo a necessidade de aterrar-se à realidade buscando vivê-la com mais qualidade, arrisco-me a dizer que pode estar na hora de procurar o apoio de uma orientação psicoterápica. Como diz Milton Nascimento: “Ponha fé na vida, ponha o pé na terra (chão)”.

César Augusto – psicólogo

texto publicado em junho de 2025