A Organização Mundial de Saúde (2021) define queda como: “… um evento que resulta em uma pessoa cair inadvertidamente no chão ou em nível inferior.” Isso inclui qualquer mudança súbita de nível, como tropeço, desequilíbrio postural, escorregão, mesmo que o indivíduo não chegue até o chão. Para um idoso, isso pode significar uma lesão de pouca importância ou, por outro lado, tão grave que o torne incapacitado ou resulte em óbito. E não são poucos os casos; segundo o órgão internacional, beira a quase 700 mil ocorrências fatais ao ano, tornando as quedas a segunda principal causa de mortes por lesões não intencionais, depois de acidentes de trânsito. Em todos os lugares do mundo as taxas são maiores em pessoas com mais de 60 anos e aumenta o número de fatalidades para quem tenha mais de 80 anos.
As consequências são intermináveis, passam pelo dano físico, psicológico e social, além de internações de longo prazo ou até mesmo de uma institucionalização. Quando em uma família um idoso fica incapacitado por uma queda, outra pessoa fica “imobilizada” juntamente, pois precisa estar próxima para alcançar um copo de água, remédios, levar ao banheiro, servir a comida, etc… Nem todas as famílias têm alguém à disposição para este auxílio, e, muito menos, condições financeiras para arcar com os altos custos decorrentes de pagamentos a profissionais ou cuidadores. E o que acontece? Aquela queda adoece não somente seu protagonista, mas uma família inteira: eleva-se o nível de estresse do grupo, aumentam as discussões desnecessárias, os jogos de culpa, e, não raro, algumas fugas são encontradas no alcoolismo, drogas ou automedicação irresponsável.
Com relação a cuidados preventivos, é mais frequente que as pessoas tenham alguma consciência voltada a objetos físicos que possam causar tais quedas, como tapetes no caminho, degraus, animais domésticos ou piso molhado, todavia, um levantamento entre 15 protocolos de saúde, apontam para o incrível número de 198 fatores que possam estar envolvidos nestes acidentes! Vão desde condições ambientais (algumas já citadas) ou então fatores psiconeurológicos, como efeito de alguns medicamentos, estado de ansiedade generalizada, ou a utilização de próteses, acometimento de osteoporose, condições de hipotensão, lesões músculo esqueléticas, deficiências visuais dentre outras, somando quase 200 possibilidades que precisam ser checadas.
A dor emocional surge quando o idoso sente-se afastado do convívio de amigos, da impossibilidade em ir ao clube e, por conseguinte, de não poder participar de atividades fora de casa, além de sentir-se na condição de dependente de terceiros, de perceber que por “sua causa” está atrapalhando a família ou gerando gastos que não estavam previstos… São muitos os sofrimentos. Como tentativa de minimizar estes acidentes, sugiro a leitura do PROTOCOLO DE PREVENÇÃO DE QUEDAS – MINISTÉRIO DA SAÚDE – ANVISA (disponível na internet, digite no buscador o texto em caixa alta acima e aparecerá com o título Anexo 01 em site do Gov.br).
É claro que da aplicação das medidas preventivas poderão surtir efeitos que minimizem os casos, mas não podemos esquecer que os maiores acometidos nestes eventos, os idosos, por algum motivo, mesmo assim, ainda sofrerão quedas, e, cabe à família estar estruturada para lhes dar as melhores condições de apoio, físico e emocional. Não julguem o acidente e nem apontem culpados, a prioridade nesta hora é dar acolhimento ao acidentado, estar ao seu lado de maneira que sua confiança não fique abalada, pois é preciso que a recuperação seja adequada de maneiras a propiciar o retorno à sua autonomia. Um idoso que fique inseguro, traumatizado e com medo, poderá gerar uma condição de dependência muito além da necessária, prolongando o sofrimento de sua família. Lembre-se de que toda a forma de apoio será melhor pensada e adotada em ambiente de compreensão, de harmonia e de respeito mútuo.
Tem dúvidas sobre como agir em situações e/ou ambientes assim? Procure um profissional adequado, afinal, uma orientação sensata pode ser capaz de manter o equilíbrio e a saúde da família, restringindo-se os cuidados unicamente a quem o necessita.
César Augusto – Psicólogo Especialista em Envelhecimento Humano
texto publicado em junho de 2024