A denominação PIB – Produto Interno Bruto – nos é familiar, afinal, criada em 1953 como uma medida universal para que os países pudessem medir o desempenho da sua economia também nos foi ensinada em sala de aula e é tema diário em jornais e noticiários. Agora, FIB – Felicidade Interna Bruta – como unidade de medida criada pela ONU para medir cientificamente a felicidade e o bem-estar geral de uma nação é um termo de menor visibilidade. Ocorre que muito antes da existência da ONU, o Butão, um país asiático localizado no Himalaia entre a Índia e a China e de tradição budista, já dava importância ao tema felicidade e leva este estilo de vida há séculos. Em registros próprios, no ano de 1675 o governo local já se preocupava com a felicidade de seus habitantes, e, a legislação do ano de 1729 protocolou: “as leis devem promover a felicidade de seres sencientes”. Isto quer dizer que se aquele povo foi educado a preocupar-se com a felicidade de seus pares, da mesma forma aprendeu a manter esta postura com todos os seres vivos, de todas as espécies, inclusive plantas. É uma visão holística onde há a compreensão de que uma fonte de água, um inseto, uma planta (e não somente os seres humanos), tudo faz parte do equilíbrio universal e, em harmonia, geram felicidade.
Foi somente em abril de 2012 através da ONU que surgiu o primeiro Relatório Mundial da Felicidade, o qual chamou a atenção do mundo e passou a ser utilizado por um maior número de países dali em diante. Atualmente, no Brasil, Caio Queiroz – CEO da Aguama Ambiental – refere-se à aplicação de instrumentos de pesquisa da FIB para 2025 dizendo: “Levamos o conteúdo para Fernando de Noronha porque precisávamos dar uma atenção especial para a comunidade. Há forte índice de depressão, de insatisfação. Apesar de as pessoas morarem em um paraíso, trabalham demais, porque o custo de vida é alto, e a qualidade de vida que recebem de volta não é equilibrada”. Em síntese, é um envolvimento de iniciativa privada que vai em auxílio às políticas públicas para melhorias na qualidade de vida e consequentemente no índice FIB.
Em sendo um trabalho científico, o FIB é constituído por 72 indicadores que cobrem 9 dimensões, dentre elas: bem-estar psicológico, uso do tempo, cultura, saúde, educação, vitalidade. Cada um desses indicadores é esmiuçado em detalhes, mas vou ater-me às questões psicológicas, onde é preenchido um questionário geral que versa sobre saúde, frequência de orações, de meditação, capacidade de compreensão do que sejam egoísmo, inveja, calma, compaixão, generosidade, frustrações e tantas outras perguntas. O questionário é tão rico em detalhes que ler cada um dos indicadores, poder pensar e responder ainda que para si mesmo sobre cada um deles, já é suficiente para nos tirarmos da acomodação.
Como psicólogo, asseguro que é uma ferramenta poderosa para o autoconhecimento, para a provocação de mudanças, para uma reforma íntima como denominam alguns estilos de vida, sem esperar que apenas os governos tenham a obrigação de promover algumas mudanças necessárias à qualificação e melhorias do FIB. É possível perceber que a maioria delas estão ao nosso alcance mediante a adoção de novas atitudes, da revisão de valores, de prioridades, da consciência de que somos um todo. É um roteiro para praticarmos.
Mas qual o pais mais feliz do mundo? Pelo sétimo ano consecutivo é a Finlândia, agora, ficou curioso sobre qual a colocação do Brasil no FIB? No ano de 2015 ocupávamos a 16ª posição; em 2022 caímos para a posição de número 49° e, no último relatório (2024), evoluímos para a posição 44°. Em relação aos países da América do Sul, estamos atrás apenas do Uruguai (26º) e do Chile (38º). Dá para melhorar? Sim, mas é importante que comecemos por nós mesmos, pois, todas as mudanças que queremos devem começar internamente. Quem sabe aproveitando o início de um novo ano? Feliz 2025!
César Augusto – psicólogo
Texto publicado em janeiro de 2025