Pois, recentemente, o povo brasileiro recebeu sob comoção a notícia da morte de Silvio Santos. De idade avançada, muito além da expectativa média de vida para homens no Brasil, vinha de curtas internações hospitalares para o tratamento de sua saúde. Dono de um carisma único e de risadas e trejeitos que o tornaram inconfundível (alguns dizem ter sido a personalidade mais imitada na mídia nacional) teve respeitado seu desejo de um velório dentro do rito de sua religião, simples e restrito aos familiares e amigos próximos. Justificando a letra de uma de suas músicas de trabalho mais famosas – título deste artigo – paradoxalmente à fortuna que conquistou com seu trabalho, nada levou, porém, sorriu e cantou. Muito.
Obviamente que seus dias não se resumiam apenas a cantorias. Como na vida de cada um de nós, dificuldades e dramas pessoais o desafiaram. Mas, e quanto a nós…. como estamos vivendo nossos dias? Aliás, reportando-me à pergunta de outra personalidade de larga experiência, o ex presidente da República Oriental do Uruguai, Pepe Mujica, que do alto dos seus 89 anos de idade nos questiona sobre “Como estamos gastando nossa vida?”; o que diremos? Notem a sutileza da pergunta, trata-se de como gastamos nossas vidas, isso deixa claro que vida é algo que se desgasta, logo, acaba; como um sabonete, uma sola de calçado… um perfume.
Desgastar-se faz parte de um processo natural a todo o ser vivo ou inanimado, e, também, pode levar-nos à reflexão de um conceito muito importante para o budismo, o da Lei da Impermanência, ou o sentimento do sofrimento de mudanças. Nada é permanente, seja concreto ou abstrato, o que temos agora pode não estar mais conosco no instante seguinte, e isso tanto pode ser um anel, um momento de felicidade ou mesmo nossa juventude.
Quero chamar a atenção do caro leitor que, de alguma forma, a finitude das coisas, o desgaste de tudo na vida, tangível ou não –ou mesmo da própria vida – leva-nos a um lugar comum: porém, a maneira sobre como chegaremos lá será decorrente do somatório de nossas atitudes, afinal, a qualidade de vida não está dissociada de estilo de vida. Como gastamos nossos dias? Com proveito? Com o devido cuidado para com a nossa saúde, para com nossas famílias, com a justa medida de preocupação para com as coisas de trabalho? Há equilíbrio em nossas decisões?
Não temos a todo o momento respostas prontas para os acontecimentos do cotidiano, porém, sabendo que as dúvidas virão, estarmos vigilantes para com nossa saúde, relacionamentos e, termos disposição para o trabalho, é o básico para vivermos com naturalidade e livre de tensões. Do contrário, quando a ansiedade toma conta e o medo da morte nos assusta limitando nossa alegria, somos exigidos a desprendermos um esforço maior para a busca do equilíbrio. Para estas horas, contar com o apoio de um profissional da psicologia, de um ambiente seguro para falarmos sobre nossas dificuldades auxilia para que superemos os obstáculos. De resto, a prática de valores morais, o respeito ao próximo e demais atitudes positivas que viermos a adotar resultarão em tamanha felicidade que, não raro, do nada, poderemos nos perceber cantarolando “lá lá lá lá… lá lá lá lá, vamos sorrir e cantar!”.
César Augusto – psicólogo
Artigo publicado em setembro de 2024