Proponho que você comece a leitura deste texto de forma diferente: parando agora mesmo e fixando o olhar para a imagem acima, a ilustração deste texto. Feito? Agora quero que pense (ou escreva) três títulos que você daria para o tema. Tarefa simples? Não para a imensa maioria dos estudantes brasileiros que foram submetidos a esta atividade (a qual visava apurar suas capacidades criativas) e que ficaram com uma nota muito baixa, ocupando o 49º lugar de um total de 61 países. Anualmente alunos de final de ensino de nível fundamental de todo o mundo são submetidos a diversos tipos de avaliações, as quais, segundo a promotora do evento, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), buscam medir o quanto o jovem adquiriu de conhecimentos para uma participação plena na sociedade. “Partindo do princípio de que o pensamento criativo é importante para ajudar jovens estudantes a se adaptarem a um mundo de mudanças cada vez mais rápidas, a OCDE dedicou um dos volumes de pesquisas do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) ao tema Mentes Criativas.” (Fonte Agência Brasil junho/2024).
Nos últimos tempos muito tem-se falado sobre Inteligência Artificial (IA), sobre a velocidade com que vem se reinventando, a vantagem de sua utilização e, como tudo o que é novidade, o questionamento sobre qual ética deve prevalecer neste meio. Parece que não é mais preciso pensar para cumprir-se tarefas, sejam escolares, sociais ou de trabalho, basta pedir, dar um comando e a tecnologia faz por nós. As grandes mídias do mundo vêm atualizando seus conceitos para pautar pelo bom uso da IA, Universidades alertando seus alunos quanto às limitações/proibições da utilização de tais programas em trabalhos acadêmicos, CEOs preocupados com que suas equipes apresentem desempenhos que sejam realmente resultados de seus esforços e não de máquinas, enfim, há muito trabalho sendo feito.
Apenas para ilustrar, ainda neste ano foi criado o primeiro concurso de beleza de inteligência artificial do mundo para mulheres “geradas” por IA, o qual contou com mais de 1500 participantes e uma grande soma em dinheiro como premiação para a (criação) vencedora. Até aí, tudo bem, mas o que dizer da participação fraudulenta e vencedora do alemão Boris Eldagsen ano passado em um concurso de fotografias, onde sua foto era uma criação gerada por IA? Ou, cá em nossa Terra Brasilis, de um livro desclassificado do maior premio literário, o Jabuti, por ter seu autor utilizado uma ilustração também gerada por IA? O líder em projetos estratégicos Camilo Barros, referindo-se à IA, faz uma interessante afirmação ao trabalhador que esteja preocupado em perder seu lugar: “A tecnologia e os dados são ferramentas que podem ser usadas para expandir e enriquecer seu trabalho, e nunca vão lhe substituir se a sua função exige competências humanas, como a criatividade”.
Mas voltemos ao mau resultado de nossos jovens alunos na avaliação do quesito criatividade, pois, isso precisa ser revertido! Uma pessoa com criatividade busca soluções, é curiosa, não fica limitada a paradigmas, destaca-se das demais, o que pode resultar em crescimento profissional com a abertura a novas experiências. O mundo tecnológico de hoje precisa de pessoas criativas, e, quem age assim, renova-se, canaliza suas energias e inteligência para solucionar desafios. Criatividade não é um dom e privilégio de poucos, ela é uma habilidade que pode ser desenvolvida através do cultivo de alguns hábitos saudáveis. Exercite-se, medite, leia livros, tenha amigos de verdade e encontre-os, conversem, riam, chorem, sejam humanos, máquina alguma será capaz disso. Tenha em mente que criatividade não se trata de passividade, de ficar aguardando que uma inspiração surja de repente, pelo contrário, seja persistente, tente, corrija, ouça mais, mas fale, ocupe seu lugar, não é possível ser criativo se isso não for expressado. Quer um ambiente seguro para pôr suas ideias em dia? Já pensou sobre o quanto a psicoterapia pode te ajudar? Valorize-se, inove, seja criativo!
César Augusto – psicólogo
Artigo publicado em julho de 2024