Li recentemente uma entrevista de um “influencer” brasileiro dizendo ter recebido R$ 15 mil para aplicar botox em seu rosto e divulgar a clínica que o patrocinou. Disse ainda ter recorrido, posteriormente, à uma harmonização facial para recuperar a autoestima e a confiança. Mais tarde, após ter participado de um reality show e ouvir comentários negativos sobre sua aparência decidiu por realizar mais aplicações. Deixou claro que tais declarações tiveram influência na percepção que tinha sobre si mesmo e, por isso, passou a ficar muito insatisfeito com a sua aparência. Na ocasião, começou a receber propostas para realizar parceria com clínicas estéticas. Em sua fala:“Passei a receber propostas de marcas para mexer no meu rosto e ganhar por elas. Na minha cabeça, isso era só benefício. Encontrei naquele meio uma forma de monetizar. Por exemplo, para uma aplicação de botox, ganhava R$ 15 mil pela divulgação. O implante de cabelo na barba rendeu R$ 50 mil. A lipoaspiração foi quase R$ 100 mil”. Resumindo: depois de tantos procedimentos (artificiais, segundo ele) que lhe renderam algum dinheiro, insatisfeito com os resultados, optou por retirá-los, o que implicou num demorado processo e mais riscos à sua saúde.
O relato acima apenas reflete o sentimento de muitas pessoas com baixa autoestima, algumas das quais, se tivessem a seus alcances condições financeiras para procedimentos clínicos, os fariam. Em busca de quê? Qual a segurança com relação à saúde?
Temos lido e assistido com frequência sobre procedimentos estéticos malsucedidos (alguns resultando em mortes) por profissionais despreparados ou então não habilitados para tal, ou ainda, em clínicas e consultórios sem o mínimo de condições de socorros emergenciais, caso necessários.
Reitero: em busca de quê? Há muitas insatisfações que vão além das de ordem da estética: por exemplo, aquelas decorrentes de relacionamentos amorosos frustrantes, de desempenhos medíocres em seus trabalhos, da falta de habilidade em educar os filhos, da impaciência em dar atenção aos seus pais, tantas, que não há procedimento clínico algum que as resolvam. Desculpem-me o trocadilho, mas quando a busca por “harmonização facial” se dá em corpos que estão em desarmonia interna, vivendo conflitos, medos, inseguranças e ansiedades, o resultado será apenas de fachada, pois a insatisfação interna continuará existindo. Não há matéria alguma que preencha um vazio que seja da ordem existencial.
É preciso olhar para si com confiança e aceitar que alguns fios de cabelos brancos e rugas na pele podem simbolizar troféus conquistados. Entender que é possível, sim, cuidar muito bem de sua aparência sem, no entanto, acreditar que isso seja o mais importante, pois, o tempo é inexorável, e suas marcas virão, independentemente de feições de beleza ou de condição social. Horas bem vividas com a família, com os amigos, tempo dedicado à prática de alguma atividade física, às artes, cuidados com alimentação (sem excessos), boas leituras e qualidade de sono irão resultar em uma satisfação muito maior do que artificialidades.
Nestas horas de dúvidas, a intervenção pelo trabalho de escuta que um psicoterapeuta proporciona pode auxiliar na tomada de decisões. Não se trata de ser contra tais procedimentos, mas sim, sobre se é isto mesmo que se busca. Poder compartilhar com segurança relatos de angústia ou de ansiedade, questionar-se sobre seus planos, orientar-se sobre a escolha de uma clínica ou profissional para seus intentos, o ajudará, de maneira mais sensata e equilibrada na sua decisão. Além do que, um trabalho psicoterápico voltado à valorização do sujeito, à elevação de sua autoestima, resultará em maior segurança pessoal e na aprendizagem de que não devemos dar muita importância ao que os outros dizem. Aliás, já escrevi sobre isso: o maior arrependimento que as pessoas dizem ter em seus momentos finais é o de terem tido uma vida muito preocupada com a opinião dos outros. Viva para ti mesmo, viva a tua vida e seja feliz!
César A R de Oliveira – psicólogo
artigo publicado em novembro de 2024