
Calma! Em sã consciência, todos nós gostaríamos de estarmos livres de qualquer tipo de sofrimento, mas, como isso é inevitável, podemos aprender sobre de que forma sofrer pode nos tornar melhor. Segundo alguns dicionários, o termo (derivado do latim) pode referir-se a uma dor física ou moral e é uma palavra que comporta os sinônimos suportar e resistir. Então, comecemos por entender que se trata de uma atitude, uma postura ante a situações que estejam acontecendo em nossas vidas e que nos exigem que façamos algo, ao contrário de, como alguns, acomodar-se na condição de vítimas e de coitados. É frequente, nas sessões de psicoterapia, nos depararmos com pessoas atordoadas por inúmeras dificuldades, quer sejam em relações conjugais, de saúde, em família, no trabalho ou em baixa estima – com sentimentos de inadequação ou de incapacidade – e que se sentem imobilizadas para qualquer ação que possa mudar o quadro. É aí que saber sofrer faz a diferença.
Quando olhamos para a literatura ou para a história, tal qual como na atualidade, encontraremos em todas as passagens relatos de situações de sofrimentos coletivos ou individuais quer sejam da ordem do natural (catástrofes climáticas) ou guerras e hecatombes impingidas pelo próprio homem, onde, não raro, o sofrimento produziu alguns mártires. Na atualidade, em situações menos drásticas, sofremos diariamente para ajustar o orçamento às nossas necessidades pessoais e familiares, ao não conseguir dizer um não a alguém, a continuar num emprego que detestamos ou não somos valorizados, a mantermos uma relação de aparências sociais ou até mesmo a insistir num relacionamento conjugal que talvez não queiramos mais e temos dificuldades em sair. Então, precisando suportar, resistir, sofremos.
Na mitologia grega, por tentar enganar os deuses, Sísifo foi condenado a um esforço eterno de rolar uma pedra morro acima vendo-a despencar para a base cada vez que a empurrasse. Albert Camus, escritor e filósofo, deu em sua obra um novo significado ao mito sugerindo que a verdadeira liberdade reside em aceitar a luta e encontrar realização no esforço constante, imaginando Sísifo feliz em sua tarefa sem fim. Precisamos nos despertar para a sabedoria de vivenciarmos momentos de felicidade mesmo ante ocasiões de sofrimentos; casais extremamente felizes quando do nascimento dos filhos esquecem desta alegria ao depararem-se com as dificuldades na educação desses; a emoção de conquistar seu diploma, seu emprego, ser aprovado em um concurso almejado torna-se ranço com o passar do tempo ante as dificuldades que o labor apresenta… Diz uma nobre alma: “Desejar-se uma existência física sempre risonha e fácil constitui imaturidade psicológica, estado de infância não vivida, que foi transferida para a idade adulta, porquanto em tudo e em todo lugar o processo de crescimento é como um contínuo parto que proporciona vida, mas que oferece também um quantum de dor.” – (Psicologia da Gratidão – Leal ed.)
Aprender a sofrer significa atingir a maturidade psicológica proposta pela autora podendo falar livremente de seus desconfortos em uma sessão de psicoterapia sem julgamentos, acolhido por uma escuta ética e responsável capaz de auxiliar no suporte e na aprendizagem de como melhor viver a vida. Para quem é espiritualizado, é amenizar a dor tal como propõe a oração da serenidade, onde se pede por esta para aceitar as coisas que não se pode mudar, coragem para mudar aquelas possíveis e, principalmente, sabedoria para distinguir uma da outra.
Resista! Com sabedoria.
César Augusto – Psicólogo
Texto publicado em abril de 2025