A expressão deste título é muito conhecida no mundo todo, afinal, a inveja é universal e foi descrita como um dos pecados capitais ainda no século IV pelo monge Evágrio Pôntico, o qual objetivava fazer um levantamento descrevendo os principais vícios que atrapalhavam a rotina voltada ao exercício para o crescimento espiritual. Na história da humanidade – resultando em guerras e mortes – é descrita na trama entre os irmãos Caim e Abel; na mitologia Grega pela disputa sobre quem era a mulher mais bela, ou narrada até mesmo em contos de fadas (Irmãos Grimm) como Branca de Neve. Ela pode se manifestar sob a forma de diversos sentimentos que julgamos negativos: raiva, ódio, inadequação, e pior, pode levar o sujeito a desenvolver atitudes de vingança, de destruição, de fofocas… e quem mais sofre com isto? O invejoso. A inveja é dirigida não só a bens materiais (do outro), mas também à posição social, beleza, caráter, qualidades pessoais, etc, e normalmente voltada àquilo que gostaríamos que fosse nosso. Em linguagem popular pode ser conhecida como olho gordo, seca-pimenteira ou mau olhado, todavia, não podemos confundi-la com ciúmes ou cobiça, sentimentos não direcionados ao mal, afinal, nem todo mundo é invejoso.

          Mas se invejamos o que queremos, o que desejamos, por que não buscamos isso para nós? Certamente é por que pode haver algumas limitações intransponíveis: não conseguirei ficar bonito ou inteligente como aquela pessoa, minha condição financeira não é suficiente para ter também os objetos e status que invejo, ou então, não acredito que vá um dia ter desenvoltura e simpatia para agir como ela. O que fica evidente aqui é que há uma insatisfação com a vida que se leva e uma frustração decorrente gerando tristeza.  Daí que, um trabalho voltado à autoestima, à adequação com a realidade, à motivação por desprender-se da vida do outro, pode desencadear um processo de superação que leve à satisfação e à recuperação da saúde, pois este comportamento gera somatizações que acabam por manifestar-se em diversas formas de adoecimento.

          É importante trazer a informação de que inveja não é apenas um mau comportamento que possa ser modificável com facilidade e a qualquer momento, é também um dos sintomas de Transtorno de Personalidade Narcisista, e isso está definido no Diagnóstico de Saúde Mental (DSM-V) como uma condição mental em que a pessoa superestima a sua importância, colocando-se acima das demais, sem empatia e com a necessidade de atenção, admiração e reconhecimento exagerada, o tempo todo. Descrita assim, pode ser um sintoma de uma doença. Ao convivermos diariamente com pessoas muito invejosas na família ou no trabalho, corremos um risco real ante uma situação muito prejudicial para a saúde mental, pois os ataques invejosos podem ser internalizados acabando por destruir nossa autoestima, corroer o amor próprio, gerar insegurança, medo, agressividade contra si mesmo e até depressão.

          Todavia, a inveja pode sinalizar sobre algo que damos valor e que, por diversos motivos não alcançamos. Já parou para pensar sobre isto? Quem sabe uma mudança de estratégia na vida, uma nova avaliação sobre o que realmente é importante possa auxiliar em novas conquistas. Mas uma pergunta: você sofre com isto? Conhece ou convive com alguém assim? Pense em psicoterapia, afinal, o espaço psicoterápico – onde é possível falar sem julgamentos – é uma ferramenta que pode ajudar a lidar com os sentimentos gerados pela inveja.

César Augusto – psicólogo

Texto publicado em março de 2025